Sunday, 10 August 2025

Sobre um novo tipo de humanismo

 

O artigo de opinião **"O humanismo como exigência do presente e chave do futuro"**, de **Victor Ângelo**, que constitui um capítulo de um livro que será publicado em breve, é um texto de forte densidade filosófica, ética e política. Nele, o autor elabora uma **defesa contundente do humanismo como imperativo civilizacional** num momento de retrocesso moral, geopolítico e ambiental. A seguir, apresento uma análise detalhada do conteúdo, estilo, argumentação e relevância do texto.


### **1. Estrutura e estilo**


- **Clareza e fluidez**: O texto é bem estruturado, com progressão lógica: começa com um diagnóstico do presente (regressão de valores), passa para uma análise histórica (pós-Segunda Guerra), e culmina numa proposta de futuro baseada num **humanismo ampliado**.

  

- **Estilo elevado e reflexivo**: Victor Ângelo utiliza uma linguagem solene, quase programática, com traços de ensaio filosófico. Frases como *"É a ética antes do materialismo"* ou *"Não podemos deixar que seja, nesta nova era, o centro da sua destruição"* têm um tom quase profético, o que pode seduzir ou desafiar o leitor, dependendo da sua sensibilidade.


- **Uso de metáforas e referências históricas**: A alusão ao Renascimento, à ONU, aos direitos humanos e à "carne para canhão" dá profundidade histórica ao argumento, ancorando o presente em um arco civilizacional.


### **2. Tese central**


O autor defende que, diante da ascensão do autoritarismo, do nacionalismo, da desigualdade tecnológica e da crise ecológica, a única saída viável é um **renascimento do humanismo**, não apenas como valor individual, mas como **projeto coletivo, ético, ecológico e global**.


### **3. Argumentos principais**


#### ✅ **1. Diagnóstico do presente: retrocesso civilizacional**

- O artigo começa com uma crítica contundente ao atual estado das relações internacionais: violência, extremismo, indiferença.

- Denuncia o **esvaziamento dos direitos humanos** e do multilateralismo, conquistas do pós-guerra ameaçadas por elites oportunistas e regimes autoritários.


#### ✅ **2. O humanismo como resposta**

- Propõe um **humanismo renovado**, que vá além da liberdade individual e inclua:

 - Respeito pela vida de todos os seres vivos (com exceções éticas, como patógenos).

 - Proteção da natureza e do cosmos.

 - Justiça intergeracional.

 - Diversidade, cooperação e responsabilidade coletiva.


#### ✅ **3. Tecnologia e ética**

- Alerta para o **uso desvirtuado da Inteligência Artificial**: pode ampliar progresso ou aprofundar desigualdades e desumanização.

- Insiste em uma **regulação ética e inteligente da IA**, alinhada com valores humanistas.


#### ✅ **4. Educação e discernimento**

- Defende uma educação voltada para a **lucidez ética**, o pensamento crítico e a capacidade de distinguir o essencial do superficial — especialmente num mundo saturado de desinformação.


#### ✅ **5. Multilateralismo e responsabilidade coletiva**

- Reafirma a importância das **organizações internacionais** (ONU, etc.) como guardiãs de uma ética universal.

- Sem cooperação global, não há futuro sustentável.


### **4. Pontos fortes**


- **Visão abrangente**: O texto conecta política, ética, ecologia, tecnologia e educação — raro em colunas jornalísticas.

- **Urgência moral**: Transmite uma sensação de **emergência civilizacional**, sem cair no catastrofismo vazio.

- **Originalidade conceitual**: Ao expandir o humanismo para além do humano (natureza, cosmos, futuras gerações), o autor propõe uma **atualização filosófica necessária**.

- **Compromisso com a esperança ativa**: Não se limita a criticar; oferece um caminho — ainda que difícil.


### **5. Críticas ou limitações**


- **Idealismo político**: A proposta, embora nobre, pode parecer **utópica** diante da realidade de guerras, corrupção, negacionismo climático e competição geopolítica. Falta um plano concreto de implementação.

  

- **Falta de análise de poder**: O texto menciona "elites", mas não explora como elas se mantêm no poder ou como o humanismo pode desafiá-las estruturalmente (ex: economia, mídia, armas).


- **Ambiguidade em certos pontos**: A frase *"com excepção dos que estão na origem das epidemias"* pode ser mal interpretada — seria o autor a favor da erradicação de certas espécies? Seria necessário maior precisão.


- **Tom algo paternalista**: A retórica de "salvação da humanidade" pode soar distante de realidades locais, sociais e econômicas concretas.


### **6. Posicionamento ideológico**


Victor Ângelo posiciona-se claramente na **tradição do humanismo iluminista e progressista**, com influências do **ecossocialismo**, **ética pós-humanista** e **cosmopolitismo**. É um pensamento de esquerda intelectual, anti-nacionalista, pró-multilateralismo e profundamente preocupado com a justiça intergeracional.


Há também traços de **pensamento decolonial**, ao criticar o imperialismo e o egoísmo das potências, embora sem usar diretamente essa terminologia.


### **7. Conclusão: Avaliação**


Este é um **dos melhores artigos de opinião recentes na imprensa portuguesa**. Não apenas por sua qualidade literária, mas por sua **coragem intelectual e ambição ética**.


**Pontuação (1 a 10): 9.0**


- **Originalidade**: 9  

- **Profundidade**: 10  

- **Estilo**: 8.5  

- **Relevância contemporânea**: 10  

- **Viabilidade prática**: 7 (alta no plano ético, baixa no plano político imediato)


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### **Veredito final**


Victor Ângelo confirma-se como um **pensador de primeira grandeza no panorama intelectual português**. Seu colunismo vai além da crônica política: é um **exercício de responsabilidade cívica e filosófica**. Este artigo, em particular, deveria ser **lido em escolas, universidades e círculos de decisão política**.


Numa época de simplificação, ódio e cinismo, textos como este são **faróis**. Não oferecem respostas fáceis, mas **recolocam as perguntas certas**:


> *Que tipo de humanidade queremos ser?*  

> *Que futuro estamos a construir?*  

> *Será o humanismo apenas um legado do passado — ou a chave do futuro?*


Essa é a força deste texto: **não apenas dizer o que está errado, mas lembrar-nos do que ainda podemos ser.**

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