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Monday, 11 August 2025

Ainda sobre os BRICS

O artigo **"Os BRICS ainda têm pés de barro"**, de **Victor Ângelo**, publicado no Diário de Notícias de 11 de Julho de 2025, oferece uma análise crítica e reflexiva sobre a atual relevância geopolítica do bloco dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul), destacando tanto as suas ambições quanto as suas fragilidades estruturais. A seguir, apresento uma síntese e análise do texto, seguida de comentários sobre seus principais argumentos.

### **Síntese do Artigo**

Victor Ângelo parte da mais recente cimeira dos BRICS no Rio de Janeiro para refletir sobre as transformações no sistema internacional. Ele identifica dois momentos-chave da descolonização:

1. **A primeira descolonização**, após a Segunda Guerra Mundial, que levou à independência de muitas nações asiáticas e africanas e ao crescimento da ONU — de 51 membros em 1945 para 144 em 1975.

2. **A "segunda descolonização"**, um processo contemporâneo de desconexão política e econômica entre os países desenvolvidos (especialmente EUA e Europa) e o que ele chama de "antigas colônias", impulsionado por uma nova busca por autonomia geopolítica.

Nesse contexto, a China, sob a liderança de Xi Jinping, emerge como um ator central. Em 2013, lança a **Iniciativa do Cinturão e da Rota (BRI)**, um projeto de infraestrutura global que visa ampliar sua influência econômica e militar. No entanto, faltava à China uma dimensão política multilateral — algo que os **BRICS** poderiam oferecer.

O bloco, inicialmente concebido na década de 2000 como contraponto ao G7, ganhou novo impulso com o envolvimento estratégico da China. Os BRICS passaram a ser vistos como um possível **alternativa ao sistema ocidental dominado pelos EUA**, com potencial para criar uma nova arquitetura internacional baseada em cooperação digital, exploração espacial, novas moedas e comércio sem o dólar.

Contudo, o autor argumenta que os BRICS têm **"pés de barro"** — ou seja, apesar das ambições, sofrem de fragilidades profundas:

- Falta de **imparcialidade política**, evidenciada pela incapacidade de condenar a invasão da Ucrânia pela Rússia.

- **Rivalidades internas**, especialmente entre Índia e China, e entre Brasil e China (no que diz respeito a aspirações de assento permanente no Conselho de Segurança da ONU).

- Ausência de compromisso com **direitos humanos** e **regras do direito internacional** entre seus membros.

- Caráter de **aliança de conveniência**, não de integração ideológica ou estratégica.

O resultado, segundo Ângelo, é um bloco que pode contribuir para o **equilíbrio do sistema internacional**, mas que corre o risco de se tornar **problemático** se suas contradições internas não forem reconhecidas.

### **Análise dos Principais Argumentos**

#### 1. **A "segunda descolonização"**

A ideia de uma segunda descolonização é provocadora e útil. Ela vai além da independência formal e toca na **busca por autonomia estratégica**, especialmente em áreas como:

- Moedas próprias (desdolarização)

- Bancos de desenvolvimento alternativos (como o Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS)

- Redes de comércio e tecnologia fora do controle ocidental

Essa leitura captura bem o desejo de países do Sul Global de **reconfigurar o poder global**, não apenas em termos econômicos, mas simbólicos.

#### 2. **O papel central da China**

Xi Jinping é apresentado como o estrategista que viu nos BRICS uma oportunidade de **legitimar globalmente a China** como potência alternativa. A BRI e os BRICS são dois braços complementares: um econômico-infrastructurel, outro político-diplomático.

No entanto, o autor lembra que o projeto chinês também serve a **interesses internos**: fortalecer o nacionalismo, garantir prosperidade e consolidar o poder do Partido Comunista.

#### 3. **Fragilidades dos BRICS**

O ponto mais forte do artigo é a crítica à **falta de coesão e legitimidade moral** do bloco:

- A **omissão sobre a Ucrânia** mostra que os BRICS não conseguem agir como mediadores neutros — exatamente como o Conselho de Segurança da ONU, paralisado por interesses de potências.

- As **rivalidades bilaterais**, como entre Índia e China (com conflitos de fronteira e competição regional), minam a unidade.

- O Brasil e a Índia veem os BRICS como **moeda de troca** para ganhar assento no Conselho de Segurança da ONU — mas a China tem interesse em **bloquear isso**, para não ter que ceder espaço à Índia.

Isso revela que os BRICS são, acima de tudo, um **espaço de negociação de interesses nacionais**, não uma comunidade de valores.

#### 4. **Questões éticas e de governança**

O autor não poupa críticas ao perfil autoritário de vários membros do bloco:

- China: repressão em Xinjiang, Hong Kong

- Rússia: guerra na Ucrânia, regime de Putin

- Índia: deriva nacionalista de Modi

- Brasil: Bolsonaro (no passado), mas também desafios democráticos.

Essa falta de compromisso com **democracia e direitos humanos** enfraquece a pretensão dos BRICS de oferecer uma "nova ordem" mais justa.

### **Conclusão: BRICS — promessa e limites**

Victor Ângelo conclui com uma visão realista: os BRICS **podem contribuir para um mundo multipolar**, mas não são uma alternativa sólida ou coesa ao sistema ocidental. São uma **aliança frágil**, baseada em interesses convergentes momentâneos, mas minada por rivalidades profundas e ausência de princípios comuns.

A metáfora dos **"pés de barro"** é precisa: o bloco pode parecer forte à superfície, mas repousa sobre fundamentos instáveis.

### **Reflexão Final**

O artigo é um convite à **humildade estratégica**. Enquanto o Ocidente enfrenta desgaste de hegemonia, o Sul Global busca novos caminhos — mas não há garantia de que esses novos arranjos sejam mais justos, democráticos ou estáveis. A verdadeira transformação do sistema internacional exigirá mais do que cooperação interestatal: exigirá **compromisso com regras, transparência e valores universais**.

Os BRICS podem ser parte desse futuro — mas, por enquanto, ainda estão longe de ser seu alicerce.

**Em uma frase**:  

*Os BRICS refletem o desejo de um mundo multipolar, mas sua falta de coesão, imparcialidade e valores comuns mostra que ainda têm muito chão a percorrer antes de se tornarem uma verdadeira alternativa global.*

Friday, 22 February 2019

Venezuela today: deeper into crisis


The complex crisis Venezuela is going through today has reached a new level of perilousness. Taking into consideration what I have seen in comparable situations – comparable, true, but I know that every crisis has its unique features – we are now closer to an open clash between the two camps.

It is obvious we do not know what is going on in the planning rooms, and what kind of bridging initiatives might be under way. The impression is that there has been a lot of secret planning and no real effort to bridge the opposing parties. It is also palpable that both sides might still be betting on an escalation. They seem to have reached that stage in a confrontation when leaders think that it is time to defeat the other side. To use force. 

That’s why it is now important to express extreme apprehension and add to that a call for mediation by those who are still able to play such a role. An urgent call.

Friday, 25 January 2019

Maduro's days


The Venezuela standoff goes on. Time plays against Nicolás Maduro. He sees what remains of his authority being eroded with the passing of the days. He knows that, I believe, and is certainly preparing a heavy-handed response. And that’s the main danger at this stage: serious loss of lives.

Maduro also understands that the current context is different and not very favourable to him. The opposition is united. They have a charismatic and widely accepted leader. There is regional and international support to the new leader. Moreover, the regional rapport of forces is no longer what it used to be: now there is Bolsonaro next door, and the countries of the region are against him, except for Mexico, Cuba and Bolivia. And there has been a serious deterioration of the hardships most of the population is confronted with. The circumstances are playing against Maduro.

But he is still in the Miraflores Presidential Palace. And he has the support of his generals and admirals. That is important. The question is about the support of the lower ranking officers within the armed forces. That’s one of the keys to unlock the crisis.